terça-feira, 7 de julho de 2009

SOBRE MARIA ADELAIDE AMARAL

Maria Adelaide de Almeida Santos do Amaral (Porto Portugal 1942). Autora. Prestigiada dramaturga, de rigoroso profissionalismo, passa dos temas sociais típicos dos anos 70 para aqueles dos relacionamentos conjugais e familiares nos anos 80 e 90.

Nascida em Portugal, emigra ainda adolescente para o Brasil. Após se formar em jornalismo e se tornar editora, lança-se numa promissora carreira como dramaturga, ao escrever Resistência, em 1975. Premiada no concurso do Serviço Nacional de Teatro, SNT, a peça fica no limbo em função da Censura. Seu texto curto Cemitério Sem Cruzes, escrito para integrar a Feira Brasileira de Opinião, 1978, é interditado. Estréia em 1978 com Bodas de Papel, com a qual é imediatamente reconhecida e premiada. Em 1980, surge Ossos d'Ofício, enfocando personagens confinadas num arquivo morto, texto encenado no mesmo ano, com direção de Silnei Siqueira.

Nesse primeiro ciclo de criações, Adelaide explora aspectos socioculturais de diversos grupos da classe média, tomando o tema do trabalho assalariado como um motor poderoso para contrapor suas criaturas. Em Cemitério Sem Cruzes, definida como uma reportagem cênica, enfoca os trabalhadores da construção civil. É uma fase em que declara sua filiação a uma escritura realista e linear, assumindo a influência do dramaturgo Arthur Miller, e colocando-se avessa aos modismos de estilo e procedimentos alegóricos que marcam a época.

Chiquinha Gonzaga, Ó Abre Alas (O Abre Alas) uma encomenda do Teatro Popular do Sesi, TPS, leva-a a explorar uma personagem feminina que causa escândalo no início do século. A montagem de Osmar Rodrigues Cruz, protagonizada por Regina Braga, torna-se um sucesso poderoso, alternando em cena mais de 120 personagens históricas e ficcionais. Esse musical parece marcar um ponto de passagem para a autora em sua fase seguinte de criações, agora singularmente voltada para as relações entre homem e mulher, em que o realismo vai cedendo à poesia e ao memorialismo.

Em 1984, ao transformar parte de seu romance Luísa em De Braços Abertos, uma delicada e profunda investigação da alma feminina, volta a aliar prestígio e sucesso de bilheteria. Com a encenação de José Possi Neto e o bom desempenho de Irene Ravache e Juca de Oliveira, a produção permanece dois anos em cartaz.

As adaptações para Electra, de Sófocles, e Uma Relação Tão Delicada, levam-na novamente ao tema da mulher. Electra é encenada em 1987, pelo diretor Jorge Takla, e Uma Relação Tão Delicada, em 1989, nova parceria com Irene Ravache, agora sob a direção de William Pereira.

Novos debruçamentos sobre o assunto estão em Viúva, uma das partes do espetáculo Solteira, Casada, Viúva, Desquitada, montagem de Lilian Cabral, 1993. No ano seguinte, ressurge com Para Tão Longo Amor, texto sobre a vida sentimental de um casal, que sobe a cena com direção de Roberto Lage, e Querida Mamãe, dirigida por José Wilker, peça em que a autora recorre à memória e à purgação de relacionamentos entre mãe e filha. Suas peças subseqüentes não chegam a revelar grandes evoluções, mas repetem a boa acolhida das peças anteriores: Intensa Magia, em 1995; Para Sempre e Inseparáveis, ambas de 1997. Em 1998, o diretor Charles Möeller remonta O Abre Alas, agora protagonizado por Rosamaria Murtinho, numa grande produção, cuja direção musical fica a cargo de Claudio Botelho.

Montados diversas vezes no exterior, sobretudo em Portugal, os textos de Maria Adelaide ajudam a adensar o perfil da alma brasileira. Como tradutora e adaptadora, realiza alguns trabalhos notáveis, como A Última Gravação de Krapp, de Samuel Beckett, em 1988; Kean, de Jean-Paul Sartre, 1994; Três Mulheres Altas, de Edward Albee, 1994; Cenas de Um Casamento, de Ingmar Bergman, 1996; e Decadência, de Steven Berkoff, em 1997. Como autora de romances, escreve Luísa, em 1986; Aos Meus Amigos, em 1992; Dercy de Cabo a Rabo, em 1994; e Coração Solitário, em 1997.

Para a TV Globo co-escreve telenovelas bem-sucedidas, como Meu Bem, Meu Mal, 1990; O Mapa da Mina, 1993; A Próxima Vítima, 1995; sendo a autora de Anjo Mau, em 1998. Suas adaptações para minissérie de A Muralha, de Dinah Silveira de Queiroz, em 2000, e Os Maias, de Eça de Queiroz, em 2001, mesclam requinte e comunicabilidade popular.

Dando um perfil do trabalho de Maria Adelaide Amaral, o crítico Yan Michalski observa: "Autora atenta à contraditória participação da classe média na evolução do processo sócio-politico brasileiro dos anos 70 e 80, Maria Adelaide constrói, através de um diálogo objetivo e coloquial, mas não desprovido de sofisticação, personagens dotados de real empatia com o público, que neles reconhece seus semelhantes".1

Notas

1. MICHALSKI, Yan. MICHALSKI. Maria Adelaide Amaral. In:_________. PEQUENA Enciclopédia do Teatro Brasileiro Contemporâneo. Material inédito, elaborado em projeto para o CNPq. Rio de Janeiro, 1989.

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